CONVERSA DE PADARIA, TODAS AS MANHÃS

     





Pedro Pedreiro chegou à padaria como de costume, sempre por volta das 7h.  Foi tomar seu café da manhã no balcão, puxando conversa com quem quer que se encontre por ali, que seja conhecido dele e do dono do estabelecimento.

--Bom dia!! Seu Manéu, me vê um cafezinho puro. Hoje não vou comer nada não. Não tô com o intestino muito bom. foi quando alguém que estava ali ao lado, encostado no balcão, tratou logo de se meter na conversa de Pedro com o Seu Manéu:

--Ué, o que foi que você andou comendo por aí, pra acordar desse jeito, com cara de ressaca?

    Era o Boca Larga, como chamavam o Antônio da Silva, que também costumava bater ponto por ali umas três ou quatro vezes por semana. 

--Acho que foi aquela dobradinha de ontem à tarde ali perto da estação de trem. parei pra tomar umas duas cervejas e fui ficando até escurecer. O pagode tava bom e o pessoal não arredava pé. Deu nisso.

  Nesse momento iam chegando mais pessoas do bairro para comprar pão, leite, manteiga, café. Coisas que as pessoas geralmente levam pra casa pela manhã e que nem todo mundo tem de pronto na dispensa. Reparei que um sujeito veio comprar um litro de refrigerante e um saco de pão. Ali deveria ter uns vinte pães. parecia que sua família era numerosa. De repente ouvi alguém me perguntando:

-- Já sabe da novidade? do que aconteceu ontem à noite?-- perguntou o Boca Larga.

-- Que novidade? --disse.

-- Derrubaram mais um essa noite. Foram uns dez tiros. -- completou ele.

--Sério? eu dormi direto. Não ouvi nada. Respondi.

    Boca Larga arregalou os olhos e fez questão de falar baixinho: --Parece que foi vingança. Estavam dizendo que ela traía o marido. Todo mundo via que os filhos dela eram brancos demais. O pai é preto, a mãe é preta. E os filhos nasceram brancos. aí tem coisa.

    Nesse instante, seu Manéu, o portuga da padaria, falou de lá de trás do balcão: 

--Vai ver que puxou aos bizavós ou tataravós. Será que algum dos ancestrais não era carcamano como eu? Às vezes, a criança nasce herdando traços de gente lá de trás.

 -- Ah, não sei não! --disse um senhor já de idade avançada que por acaso se achava também por ali pela padaria já àquela hora. Era um ,idoso recém-chegado ao bairro, coisa de algumas semanas. ele ainda não me parecia muito bem   enturmado com a freguesia do velho Manéu. Assim continuou:

--Então deixa eu contar pra vocês uma piada: "O pai reparou que o filho recém-nascido não abria os olhos e perguntou à esposa o porquê daquilo. A mulher logo respondeu: 

-- Que nada Zé. A criança acabou de nascer. Não vai abrir olho ainda. Leva tempo.

--Melhor a gente levar essa criança no médico. E assim fizeram. Depois de algum tempo, o médico liberou a esposa e mandou chamar o pai. Fechou a porta. foi quando disse: Olha, moço. quem tem que abrir o olho é o senhor com sua esposa, pois essa criança é filho de japonês."

    Todos ali caíram na gargalhada e até o Manéu saiu de detrás do balcão pra dar risada também.

  Reparei que logo estávamos todos compartilhando o mesmo momento de descontração que se antecipa a um dia qualquer da semana. 

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